ZUZU FONTES

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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O SUS E EU.

Fui lá ao médico, e quando se trata de serviço público no país, é uma verdadeira guerra. Alias, eu acho, por diversas vezes que aqui temos uma guerra santa algo velado sabe lá. Esquisito ito ito.
Bom, fui marcar a consulta. Chegando lá pediram a carteirinha do SUS, um cartão de papel de qualidade tão inferior, que até o jardineiro de minha amiga Paula tem um papel melhor, para apresentar o serviço dele: Então, já começamos por aí. O papel do cartão do SUS é uma vergonha. B’ora, ver...
-Mas a senhora tem o cartão deste posto? Já se consultou aqui? Não? É pra que médico?Sei... Olha, a senhora faz o cartão deste posto aqui, pra ficar cadastrada aqui.
-Mas eu já sou cadastrada no posto de saúde lá perto do correio. Não serve?
-Não senhora. Aqui é aqui. E lá é lá. Sei... E você sou eu, pensei...
-Vamos cadastrar a senhora - Falou o atendente decidido. Nome? ...
-Que isso?
- Seu nome minha senhora... O nome de batismo... Não sabe o que é?
Sim, eu sabia, mas estava ficando em dúvida enquanto olhava o papel ofício que era a carteira de cadastramento do posto, perto da escola... Era um pedaço de papel, feito à mão... A carteira era a mão mesmo! Improviso. Não tinha nada impresso. Queria era me chamar Paris, ter meu sobrenome Hilton e até ficar na cadeia, que já estava sendo interessante.
Já comecei a achar que ele era eu e tinha dúvidas se dava o meu nome.
-Tá. Zulmira. Com z e l, porque já sei que se não ditar, vem com s e sem L.
-Ok. Pronto, disse ele. Agora a senhora vai lá embaixo ao outro pó posto e pede o encaminhamento com o clínico geral.
-Que?
-Encaminhamento, senhora!
-Me deixa ver se entendi... Então eu tenho que ir lá e pedir pra ser atendido aqui? Não faz sentido.
-É disse o rapaz, não faz. Mas é assim que funciona...
Lá fui eu pro posto de saúde lá embaixo. Pensando... Bem é assim que funciona... Ao chegar ao outro posto...
-Hoje não atendemos para encaminhamentos. Só na quinta. A senhora volte na quinta, porque na quinta é o dia de marcar consultas pro clínico geral. Mas, na parte da manhã, tá?Mas, a senhora já é cadastrada aqui? Sim, eu já era. Algo de bom naquele dia... sorri, me contentando em JÁ SER CADASTRADA. Sabe lá que felicidade besta é essa?
Fui embora pensando na romaria de quem trabalha. Tem que pedir licença de uma semana só pra se cadastrar e marcar consulta. Outra pra consultar. Outra pra voltar e marcar os exames... E mais uma outra pra fazer os exames. Nossa! Ainda outra pra marcar a volta, voltar e mostrar os exames, passando na farmácia popular. Isso se você der sorte, e tiver os ter medicamento lá. Pede demissão logo!Não há chefe, firma ou patrão que agüente...
Bom to eu lá na quinta. Uma fila enorme, homem com o carrinho de salgados na porta, fazendo par com o vendedor de picolés com a caixa na outra porta, sorridentes... Era bom o negócio naquele ponto comercial, refleti.
Uma fila, mais uma fila! Tem cadeira não? Tem sim. Só pra idosos?
É assim que funciona... E, como tenho bom senso, os mais velhos sentam-se com privilégios justos. E como tem idoso quando eu estou por perto! Que coisa! Que ótima educação que tive, mas... Quanto velho! Deus que me perdoe, ainda serei uma idosa. Serei ou sou? Tenho que me definir ainda. sorri.
Enfrentei a fila pensando quantos daqueles não passam pra DEUS antes de se consultarem. Sim, vão direto pro céu, pois pelo calvário já passaram aqui.
Fiz a marcação:
– A senhora volta na quinta pra marcar, ta?
O que?Eu? De novo?Já irritadíssima e querendo que a quinta feira sumisse do calendário. Na quinta pra marcar? O que é isso?
- Sim, hoje já passou da hora, não marcamos mais, então na quinta a senhora vem pra marcar o atendimento pra outra quinta... É assim que funciona...
Voltei na outra quinta, cheguei cedo pra não passar do horário... De manhazinha... Já cheguei cumprimentando o vendedor de picolés... Sorriso largo... ele sim , amava o SUS.
-Hei moçaaaaaa! Eu vim marcar a consulta pra o clínico geral - disse eu animadinha. Silêncio.
-Moça... Eu vim ma...
-Olha, ela respondeu tirando os olhos do jornal só a partir do meio-dia. Eu olhei no relógio, eram 8.05... Meio-dia, meio dia... Ai ai ai. Meio dia.
-Mas, por quê?
-Uai. É assim que funciona...
Fui andar, pelos arredores e constatei que não havia nada pra fazer por ali... Uma loja de 1.99, um supermercado, uma igreja fechada, um restaurante por kilo, correios... PARIS HILTON, PARIS HILTON.PARIS HILTON!Dei umas, inúmeras voltas, e oba! Deu meio-dia. Voltei lá!
-Quem quer marcar consulta pro clínico geral? Entrem na Filaaaaaaaaaaaaaaaaa! –gritava ela.
E aquela gente toda? De onde saíram?Fecharam a igreja, a loja de 1.99, o supermercado, o restaurante e marcaram encontro ali? Quanta gente! Idosos na frente...
Entrei na fila, peguei a senha, e esperei feliz de saber que eu já era cadastrada, tinha a carteirinha, peguei o papel, já estava com a senha... nossa, que alegria.
-O atendimento começa ao meio dia e meia. Eu, já disposta e animada, com a senha na mão, fui conferir o sabor do restaurante a kilo...negócio rentável,pensei, tendo um posto de saúde perto....É assim que funciona, pensei e mais uma vez,sorri.
Almocei rápido e voltei ás 12.30. Cadê o médico? Não começa o atendimento ‘as 12,30?
-Mas o doutor só chega uma hora. Quando não se atrasa.
-Por quê. Perguntei..
-É assim que funciona, disse a senhora ao lado, com a face bem enrugada, conformada e com uma tristeza no olhar.
Esperar. Odeio filas, procurar e esperar.
Uma hora! O doutor! Que maravilha! Parecia que eu via um astro hollywoodiano de perto, já eufórica. O doutor, o doutor,o doutor, repetia eu bestamente em silêncio, claro, toda feliz! Como minha mãe queria que eu fizesse medicina...
-Senha!Fila! Idosos primeiro! Dizia a funcionária leitora costumais do jornalzinho do estado, por trás dos óculos e parecendo uma diretora escolar, sentindo-se importante demais, além da função.
Como não tinha nada interessante pra fazer, contei às pessoas que estavam na minha frente... 24. Dia do meu aniversário, lembrei. Tomara que não caia na quinta feira. Sorri.
Ás 14.00 eu fui atendida, verificando que 24 pessoas tinham sido atendidas em 5 minutos cada... O que?Mas cinco minutos não dá nem pra falar o que tem... 1 minuto ser chamado pra entrar e sentar...
E... O que é esse atendimento...
Fui atendida velozmente, e o Senhor mal olhou pra minha cara, já me dando encaminhamento enquanto eu falava que o que eu estava sentindo era...
-O próximo!
Os médicos dos SUS são muito preocupados com o próximo; O próximo paciente.
-É assim que funciona... pensei.

Pois é caro leitor! É assim que funciona!

2 comentários:

  1. Zuzu, simplismente amei, é impressionante como vc consegue transformar todas asquelas coisa intediantes e uma bela crônica, seu poder de criação é esplendido, estou facinada!!!!

    beijossss

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  2. obrigada paulinha....
    volte sempre...
    divulgue
    beijos mil!
    zz

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